O setor de construção civil é, historicamente, dominado por mão de obra masculina. O quadro, no entanto, tem mudado: segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, o segmento soma mais de 200 mil profissionais, que atuam em diversas áreas, cargos e atribuições.
O crescimento não é por acaso, principalmente quando o assunto é gestão. Ao comparar o gênero e os dados financeiros de companhias da América Latina, a consultoria McKinsey mostrou, por exemplo, que as empresas que têm pelo menos uma mulher na equipe de executivos possuem 50% mais chances de aumentarem a rentabilidade.
Cientes dos avanços da sociedade, da importância da equidade de gênero e, claro, pelo esforço das profissionais mulheres, as redes associadas à Febramat têm aberto cada vez mais espaço para as colaboradoras, incluindo na administração. Por conta do Dia Internacional da Mulher, comemorado esta semana, ouvimos e compartilhamos as histórias de algumas gestoras. Inspire-se!
Dellany Petrin, gestora administrativa Rede Clube da Casa
“Cursando Administração, estagiei e trabalhei em uma empresa especializada em concreto. Depois de formada, passei por uma pedreira. Hoje, sou parte da grande e forte equipe da Rede Clube da Casa.
As dificuldades que encontrei para na profissão foram demonstrar competência, conhecimento e pulso firme sem anular os traços da personalidade feminina. A revolução industrial abriu novos postos de trabalho, mas com salários e tratamentos desiguais às mulheres. Desde então, nota-se uma luta por direitos iguais.
Hoje, com tantas reviravoltas econômicas, o segredo para as empresas lidarem com essa questão está na gestão de mudanças e na inovação, o que requer espírito de equipe e liderança. Sensibilidade, intuição e vontade de servir são atributos indispensáveis para o sucesso nos negócios. Para a mulher, foi permitido desenvolver mais essas características.
As mulheres têm se apresentado qualificadas e se destacam em sua capacidade de coordenar e organizar. Somos detalhistas e cuidadosas. Desempenhamos com sucesso atividades que exigem paciência e precisão. Somos mais próximas, com capacidade de pensar e agir em muitas direções ou temas ao mesmo tempo. Somos inclusivas, compartilhamos o poder e a informação com os que lideram.
Na Rede Clube da Casa, os direitos humanos são respeitados e mulheres e homens são tratados iguais no que tange à remuneração, cargos e liderança.”
Fabiana Luiza, gestora da Centersul
“Amo meu trabalho, faço tudo com muito amor e tenho aprendido muito com os desafios dessa nova função que assumi, de gestora. Há três anos comecei trabalhando na rede como auxiliar financeira; com um ano e meio, passei para auxiliar de compras. A oportunidade surgiu e fui promovida a gestora.
De início, senti que a maioria das pessoas tem um pouco de preconceito, porque acham que nós, mulheres, não temos a mesma capacidade que um homem tem. Às vezes você vê isso de forma nítida, na cara das pessoas.
No passado, a mulher era criada com a cultura de que deveria ser dona de casa, mãe, esposa, lavar, passar, cozinhar etc. O homem, por sua vez, deveria trazer o sustento da casa. Hoje, notamos o quanto isso mudou. Mesmo com muito preconceito, vemos que em muitos casos houve a inversão, as mulheres estão saindo enquanto os maridos tomam conta das obrigações dos lares.
Estamos mostrando para a sociedade que temos capacidade igual aos homens e, muitas vezes, qualidades que eles não têm. Mesmo diante de tantos afazeres do dia a dia, conseguimos ser organizadas, responsáveis e engajadas.”
Isabela Martins, gerente de negócios da Redemac
“Iniciei na empresa na área de gestão de pessoas, eventos e treinamentos. Depois, recebi o convite e o desafio de assumir a área comercial e de mix de produtos. Me desenvolvi muito na área a partir de oportunidades que a empresa me deu, mas grande parte do meu aperfeiçoamento vem do aprendizado e da troca de experiência com os empresários e lojistas do setor, que contribuíram muito com meu desenvolvimento profissional e o conhecimento da prática de atuação no varejo do material de construção.
O fato de ser mulher, jovem e estar em um mercado predominante dificultou um pouco minha jornada, mas com muito trabalho consegui conquistar o meu espaço. Ainda hoje podemos perceber, mesmo em cargos iguais e funções parecidas, a desigualdade, principalmente no nível de exigência, cobrança e de efetividade. A impressão é que nós, mulheres, precisamos sempre provar e comprovar que somos capazes, eficientes. Já os homens não têm essa necessidade – isso nitidamente acontece, infelizmente.
Vejo a presença das mulheres em nosso segmento como um processo, que já evoluiu bastante, mas ainda existem muitas barreiras e paradigmas a serem quebrados. As mulheres oferecem as mesmas contribuições que um homem pode oferecer, ou talvez até mais — na minha visão isso está ligado ao nível de conhecimento, comprometimento, entrega, interesse, estratégia. De toda forma, esses fatores são muito mais próprios do perfil profissional do que propriamente do gênero.”
Luciana de Abreu Martins, presidente da Rede Construvip Litoral
“Atuo na Materiais para Construção Market, loja filiada à Construvip Litoral, em São Vicente (SP). Sou formada em Letras e deixei de ser professora de inglês e francês para assumir a loja da família, onde já havia trabalhado com meu pai dos 16 aos 20 anos. Por ser mulher, meu pai nunca me incentivou a prosseguir na loja. Eu não tinha oportunidade de assumir cargos além do de vendedora, caixa ou auxiliar administrativa. Então resolvi sair para trabalhar dando aulas.
Depois de dois anos, assumi a direção de uma das filiais da escola de idiomas em que trabalhava. A proprietária acreditou no meu trabalho e, de certa forma, depositou a confiança necessária para que eu voltasse e assumir a empresa da família.
Afinal, material de construção está no meu sangue. Amo tudo relativo à construção e sou capaz de, em um shopping, perder horas dentro de um home center do setor, em detrimento às lojas de roupas e calçados. Como diz meu marido, sou um caso a ser estudado.
Como nossa loja tem 60 anos e já estamos na quarta geração de administração, posso dizer que, com a entrada das mulheres (faço parte da 3ª geração e esta é a 1ª geração de administração feminina), nossa loja priorizou a busca da excelência no atendimento para a fidelização dos clientes; melhora no visual de exposição dos produtos e introdução de um mix voltado à decoração, como vasos, tapetes, pendentes, lixeiras e utensílios domésticos em geral. Tudo com a intenção de atrair o público feminino.
Vale dizer que não deixamos de lado nosso compromisso de sempre tentar ofertar as melhores soluções com os melhores preços aos nossos clientes. Uma prova de que perseguimos, com muita seriedade, esse desafio foi termos nos filiado à Rede Construvip Litoral, da qual hoje sou presidente. Hoje, aqui na empresa, dos nossos 20 funcionários, oito são mulheres.
Com exceção das entregas de mercadorias — por conta do peso —, em todos os outros setores temos mulheres e homens trabalhando lado a lado, em perfeita sintonia. Inclusive nossos clientes, salvo raros casos, não demonstram qualquer preconceito em serem atendidos por mulheres. Muitos pelo contrário, elogiam e até preferem ser atendidos por nossas vendedoras. Alegam que a maioria delas, além de ser mais paciente, gosta de explicar e alertar sobre cada detalhe do material que está oferecendo, o que acaba proporcionando segurança e confiança ao cliente.”
Maria Célia Amorim Dantas, presidente da Redecon-RN
“Iniciamos nossa empresa do ramo do varejo de material de construção há 15 anos. Não sabíamos nada do setor e compramos uma loja que tinha aproximadamente 100 produtos — 90% do faturamento estava na venda de cimento. Passados 15 anos, temos quatro unidades e comercializamos aproximadamente 10 mil produtos, gerando cerca de 200 empregos diretos.
As dificuldades foram diversas, como credibilidade junto aos clientes e fornecedores, além das políticas públicas e tributárias. Ser mulher também pesou. Uma de nossas lojas fica no interior e houve uma grande barreira para que os colaboradores aceitassem a gestão de uma mulher — e de forma brilhante!
Hoje eu diria que construímos uma história. Passo a passo as mulheres conquistaram espaço na construção civil e o céu é o limite. No atendimento direto ao cliente, gostamos muito de contratar mulheres, pois elas dão show no fazem.
Hoje sou presidente da Redecon-RN e, juntamente com o esforço de toda a nossa equipe, sob minha gestão, tivemos um crescimento de 100% de lojas e associados à rede”
Yara Bráz, integrante da gestão da Rede Fácil Construção
“Minha experiência e evolução profissional foi gradativa, mas muito empolgante! Definir que o meu “entregável” dependeria sempre do meu 100% foi o segredo que me levou ao cargo que ocupo hoje. Todas as dificuldades que enfrentei foram encontradas dentro de mim mesma, e reconhecer esse fato possibilitou a promoção do autoconhecimento, proporcionando que eu enfrentasse minhas próprias fragilidades, trabalhando-as de um modo estratégico.
Nós, mulheres, acabamos vivenciando diversas atitudes de cunho sexista ao longo da carreira. Nos resta o aprimoramento constante, a resiliência e determinação. No ambiente em que estou inserida, as pessoas que me cercam e, principalmente, o propósito da Rede Fácil Construção fazem de mim uma mulher agraciada neste sentido, livre de quaisquer discriminações e distinções de habilidade por gênero.
Até pouco tempo atrás, quando falávamos de loja de material de construção, automaticamente as pessoas rementiam a um ambiente escuro, sujo, estressante e predominantemente masculino. Desmistificar essa imagem tem sido um ato revolucionário e de muitos resultados positivos.
Por sermos mais emocionais que os homens temos habilidade de contornar conflitos, de trazer mais suavidade ao ambiente e cenários e, por que não, temos um poder de persuasão diante de negociações de todos os portes. A mulher se tornou peça-chave para o desenvolvimento geral das empresas, seja de modo estratégico ou operacional. O espaço da mulher não somente no segmento de materiais de construção, mas em todo o mercado de trabalho tem crescido de maneira gradativa, constante e extraordinária!
A atuação das mulheres dentro da nossa rede é muito variável, provocando, inclusive, a quebra de muitos padrões mediante a ocupação de cargos que outrora eram considerados como exclusivamente masculinos. Temos muitas vendedoras, estoquistas, caixas e, principalmente, gerentes, que estão capitaneando dentro de nossas lojas.”