2024, por enquanto, poderia ter sido melhor: esse é o diagnóstico da diretoria da Febramat ao analisar o desempenho do segmento de materiais de construção até o momento. A construção civil vive um período com alta em indicadores importantes – porém, isso ainda não se refletiu tanto no varejo de matcon.
Panorama
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor de construção no Brasil cresceu 3,5% no segundo trimestre – número mais alto que o avanço geral de 1,4% da economia brasileira como um todo no mesmo período. Após um desempenho marcado pela estagnação nos primeiros meses do ano, esse segmento foi impulsionado por fatores como a resiliência do mercado de trabalho, as novas condições do programa Minha Casa, Minha Vida e uma leve redução na taxa de juros.
Além disso, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) revisou, na última segunda-feira (dia 28), a projeção de crescimento desse mercado para 2024, elevando a expectativa de 3% para 3,5%. A revisão foi motivada pelo aquecimento do mercado de trabalho e o bom desempenho da área imobiliária de padrão econômico. “O setor vem em um ciclo virtuoso de crescimento. O saldo de novas vagas geradas continua positivo e os empresários mantêm expectativas otimistas para o nível de atividade nos próximos seis meses”, explica o presidente da CBIC, Renato Correia.
A Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) foi outra entidade a revisar para cima sua previsão de crescimento para 2024, com base em dados da Fundação Getulio Vargas (FGV). Agora, a associação prevê alta de 4,5% em relação a 2023 (o número anterior era de 3%).
E o varejo de matcon?
Como visto, a construção civil e a indústria ligada a ela estão com números positivos. O que dizer, então, do varejo de matcon? “O desempenho de nosso mercado deixou a desejar até o momento. No início do ano, tínhamos uma expectativa melhor”, comenta o presidente da Febramat, Minoru Uehara. Para ele, diversos fatores contribuíram para o atual resultado, incluindo a alta de preços e questões políticas externas, como a guerra na Europa entre Ucrânia e Rússia.
De acordo com o vice-presidente da federação, Joel Ricardo Rocha Schmidt, a redução da taxa de desemprego no País e o aumento da remuneração per capita foram os responsáveis por gerar essa expectativa positiva para 2024. “Esperávamos um crescimento maior, mas o nosso mercado é bastante sensível ao crédito – e a alta taxa de juros acabou atrapalhando um pouco”, afirma. “No primeiro semestre houve certa pressão inflacionária em alguns produtos, e também pareceu faltar investimento na produção industrial, provavelmente por conta de algumas incertezas da economia. Isso não permitiu um crescimento maior do que o experimentado até agora.”
Mas 2024 também teve notícias positivas, como o fortalecimento do associativismo. “Cada vez mais o mercado está competitivo – e a era digital é um caminho sem volta. Por isso, fica a necessidade de se unir para fortalecermos uns aos outros e, assim, competir contra os grandes players”, reflete Uehara.
Reta final
Os últimos meses do ano sempre são marcados por serem um período aquecido para a cadeia de matcon – o pagamento do décimo-terceiro salário ajuda nisso, já que as famílias utilizam esse dinheiro extra para renovar suas moradias. Porém, como teme Uehara, é provável que, por conta do baixo poder aquisitivo atual, parte desse valor esteja comprometido, diminuindo investimentos em pequenas reformas.
E é justamente esse ramo das pequenas reformas, da construção “formiguinha”, que ajuda a trazer bons resultados para o mercado de matcon. Durante a pandemia, em 2020 e 2021, as famílias apostaram forte na melhora dos lares, pois teriam que passar mais tempo em casa. Isso gerou alta demanda em nosso segmento, seguida por uma diminuição natural. “Acredito que hoje estejamos com esse ritmo de negócios normalizado. No Rio Grande do Sul, o setor está bem mais aquecido por causa das enchentes que assolaram o Estado em maio, trazendo uma necessidade de reforma nas habitações por toda a região atingida pela água”, explica Schmidt.
Já que existe esperança para o fim de 2024, o que esperar para 2025? “Temos de ser otimistas para o próximo ano, buscando realizar ações inovadoras para alcançarmos nossos objetivos, sempre com cautela”, opina Uehara. Schmidt entende que a resposta vai depender mais de questões macro ligadas à economia nacional – e até ao mercado internacional. “2025 será um ano certamente bastante desafiador, porém com muitas oportunidades de mercado para aqueles que estiverem preparados aproveitarem”, analisa.